30 de janeiro de 2009

Lima Barreto

Afonso Henriques de Lima Barreto

Lima Barreto participa da época do Simbolismo (Fim do Século XIX ao começo do Século XX), sendo uns dos Autores do Pré-Modernismo, seja em Portugal ou no Brasil (prosa).

Escritor brasileiro, nascido em 1881 e falecido em 1922 no Rio de Janeiro. De origem humilde, mestiço, não conseguiu, pela pobreza e condições modestas, completar o curso de engenharia iniciado, passando a funcionário da Secretaria da Guerra. Construiu, a partir de então, uma obra de romancista que figura entre as mais significativas das letras brasileiras. Seu livro de estréia. Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909), romance à clef, teve grande êxito, o que deveu à circunstância de retratar a vida de um grande jornal da época, satirizando certos personagens, de identidade evidente, e que ocupavam os primeiros postos da imprensa ou das letras. Esse livro foi uma amostra do que constituiria a característica da obra do romancista, utilizada como válvula de escape a um temperamento de inconformado.

A crítica social foi, assim, o núcleo dessa obra, de acordo com os cânones da estética naturalista, praticando, como mostrou Eugênio Gomes, a literatura em função do jornalismo e do panfleto, extravasando as suas amarguras, revoltas e decepções. Daí decorre um prejuízo para a obra romancesca, não completamente realizada, quaisquer que sejam as qualidades inegáveis que se têm de reconhecer nela. Além do primeiro, escreveu os romances Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915), Numa e a Ninfa (1915) , Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919), Clara dos Anjos (1948),além dos contos reunidos no volume Histórias e Sonhos (1920), e da colaboração para a imprensa em artigos excelentes, enfeixados no livro Bagatelas (1923).

O mesmo talento e o mesmo ingrediente humano e pessoal entraram na confecção dessas obras: uma herança neurótica, os ressentimentos, os desregramentos, a dipsomania, o recalque contra a sociedade que o desdenhou, o instinto revolucionário e de reforma social. A mistura de invectiva, ironia, sátira, pessimismo, vai reencontrar-se em:

Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá,

Livro feito de conversas entre o personagem e um interlocutor, através de perambulações pelas ruas,satirizando os ridículos dos doutores burocratas.

Triste Fim de Policarpo Quaresma

É a história de um burocrata humilde, através da qual ele traça o quadro da "alta sociedade suburbana", que põe em contraste com a dos bairros aristocráticos.

Numa e a Ninfa

É uma sátira à vida política da época, com tipos e costumes retratados segundo a luneta deformadora do romanticista.

Clara dos Anjos

Iniciado desde 1904 e submetido a várias transformações, é uma tentativa de fixar a vida suburbana carioca.

Em todos os seus romances, e em muitos dos seus contos (alguns dos quais, como "O Homem que sabia Javanês", colocam-se entre as obras-primas do conto brasileiro), Lima Barreto especializou-se na pintura dos humildes, a gente do povo, a classe dos burocratas espezinhados, mestiços, suburbanos, com uma ternura e um senso de fraternidade que o colocam entre os maiores ficcionistas de veia popular e social do Brasil. A valorização crítica de sua obra romanesca deveu-se sobretudo aos escritores inspirados na estética modernista, em reação contra os cânones da chamada arte pela arte. Mesmo sem aceitar essa formulação polêmica, há que reconhecer o valor de sua contribuição.